Podemos começar com uma pergunta que convida à reflexão: se omundo avança cada vez mais cientificamente, por que adoecemoscada vez mais psiquicamente?
Apesar dos inegáveis progressos em diversas áreas do conhecimento —e de tudo o que a ciência tem contribuído para a psicologia —,percebemos que nem tudo caminha na mesma direção. Enquantoalgumas dimensões avançam, outras, paradoxalmente, parecemregredir.Sem desconsiderar o valor dos nossos pensadores contemporâneos,acreditamos que é necessário aprofundar os saberes psicológicosenraizados na filosofia, na literatura e na espiritualidade cristã. Comisso, buscamos não apenas enriquecer nossa prática clínica, mastambém promover diálogos e oferecer conteúdos que contribuam coma vida pessoal e profissional de todos aqueles que se interessam poresse campo.SOBRE NÓSAo nos tornarmos psicólogos, passamos a nos interessar por tudo aquilo que possa aperfeiçoar nosso atendimento e nossa capacidade deanálise. No entanto, surge uma inquietação: os autores clássicos, por mais valiosos que sejam, parecem por si só insuficientes para abarcar atotalidade do humano.
Tentar compreender a psicologia sem se aprofundar em temas como educação, filosofia e literatura é como tentar entender uma árvore
observando apenas os galhos, mas nunca as raízes.
Foi justamente nessa lacuna que nasceu nosso projeto de formação. Ao estudar a filosofia medieval e a psicologia tomista, nos deparamos
com um grande pensador da alma humana — ainda que não reconhecido formalmente como psicólogo: Santo Agostinho.
Em sua doutrina do Ordo Amoris, Agostinho afirma que tudo o que fazemos, fazemos por amor. Mas… será que amamos aquilo que realmente
importa? Será que sabemos amar bem?
Muito do nosso sofrimento nasce da desordem do amor: amamos intensamente o que não deveria ocupar tanto espaço em nossa vida, e
amamos pouco o que deveria estar no centro da nossa atenção.
A vida tem uma ordem. Como nas estações — primavera, verão, outono e inverno —, há um tempo certo, uma hierarquia de valores, um princípio,
um meio e um fim.
Reconhecer essa ordem e nos adequarmos a ela é, para nós, um dos caminhos mais profundos de cura e de sentido. E é com essa convicção
que seguimos: estudando, escutando, refletindo — para reordenar os afetos, reencontrar o essencial e transformar a escuta psicológica em um
verdadeiro ato de amor.